Postado em 20/02/2017
Por Rubens Amaral *
“Arlequim está chorando pelo amor da Colombina no meio da multidão”...
Carnaval, alegria que pode ser contaminada com tristeza, antes, durante e depois.
Antes, algumas pessoas exageram nas dietas para emagrecer, academia e exposição solar na tentativa de poder exibir corpos magros, torneados e bronzeados. Sem orientação podem chegar ao carnaval desnutridas, desidratadas, com a saúde debilitada. Nesta condição se submetem a um esforço físico exagerado, dormindo pouco ou quase nada, alimentando-se e hidratando-se mal, e pior, gastando uma energia que não possuem, podendo caminhar para quadros graves de desidratação, hipoglicemia, hipotensão, choque e até morte. Em adultos portadores de doenças crônicas, cardíacas, renais, diabetes, hipertensão, isso se agrava muito e o êxito letal pode ocorrer com mais frequência e rapidez.
Com o uso abusivo do álcool durante o carnaval muitas pessoas perdem a capacidade de decidir e os riscos aumentam. Acidentes de trânsito fazem vítimas pessoas inocentes que, divertindo-se de forma civilizada, pagam caro, até com as próprias vidas, o fato de conviverem em ambientes, cidades e estradas, onde esses “palhaços de carnaval” alcoolizados brincam com a própria vida e com a dos outros.
Pior ainda é brincar com a vida daqueles que ainda nem nasceram, mas que o farão cerca de nove (9) meses após as folias, ou melhor, as orgias de carnaval. Irresponsáveis e na grande maioria das vezes drogados, liberam seus instintos sexuais, como se animais fossem, e, na irracionalidade mental e na liberalidade promíscua e desumana, transam, transam e transam.
Mamães Colombinas vagam pelas eternas quartas-feiras de cinzas à procura de seus inebriados Arlequins e Pierrôs que sumiram depois daquelas noites de carnaval. Pierrôs e Arlequins que nem sabem que já são papais.
Vírus disseminados no carnaval, meses ou anos depois começam a se manifestar: HIV, hepatites B e C e outros. Lembrando aquele carnaval que passou, muitos “palhaços e palhaças de carnaval”, agora perderam suas irresponsáveis alegrias e hoje, choram doentes. Coloridos? Não mais! Agora estão descorados pela anemia e pela vergonha imposta pela tragédia daquele carnaval que, infelizmente, não passou...
O carnaval já vai longe e na justiça Arlequins, Colombinas e Pierrôs dançam à luz de processos penais. Nos hospitais, esses loucos “palhaços de carnaval” continuam mascarados, porém agora com as cores das doenças, quiça lembrando: “Foi o carnaval que passou”, ou melhor, foi a vida que mudou...
Mas há o outro lado lindo da história onde equilibrados Arlequins, Colombinas e Pierrôs permanecem vivos e coloridos porque souberam amar e brincar. São os que amam verdadeiramente a Deus e ao próximo, cantam as cores do amor com a nítida dimensão e responsabilidade do momento não colocando a vida de ninguém sob risco, muito pelo contrário, preservando-a. E assim pela vida, coloridos, continuam cantando: “Foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano, foi no carnaval que passou. Eu sou aquele Pierrô que te abraçou, que te beijou, meu amor”...
* Rubens Amaral é médico nefrologista e Mestre em Educação
TEXTO PUBLICADO NO JORNAL A TRIBUNA DE 19/02/2017
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