Postado em 09/03/2014
Por Rubens Amaral
Gostaria de parabenizar o Jornal A Tribuna que acende o necessário, pertinente e mais do que temporal debate sobre a Humanização na Saúde trazido na ótima matéria da excelente repórter Luciana Julião na edição do último domingo (9/3).
Defendo novos rumos para a Medicina e a Saúde em geral. Entre muitas áreas que carecem de mudanças gostaria de tecer alguns comentários sobre a formação dos médicos, hoje, extremamente focada nas doenças e não nas pessoas, quiçá, retirando desse jovem estudante, pelo menos parcialmente, os valores humanos que traz consigo desde o seio familiar e da sua educação, tornando-o, ao final do curso, um técnico especialista em células, órgãos e sistemas. Um cardiologista, um oftalmologista, um nefrologista, um dermatologista, enfim, um especialista em doenças e não em saúde e muito menos em gente.
Como preparar médicos que gostem de gente? Que sejam especialistas em gente se nos currículos médicos não temos antropologia, não conhecem a história do homem, não temos filosofia, não sabem como o homem pensa, não temos teologia, não entendem sua relação com Deus, não temos sociologia, não sabem como a sociedade caminha? Como exigir que esse profissional atenda uma pessoa olhando-a no olho? Queixa, mais do que comum nos ambientes sociais: “Aquele médico nem me olhou no olho!” Só para exemplificar: o único profissional médico especialista que olha no seu olho é o oftalmologista, mas olha no olho órgão e não no olho gente, pessoa. E assim vamos cada vez mais ficando especialistas em doenças nos afastando dos seres humanos que são os portadores dessas mesmas doenças.
- O senhor é médico “de que”? Pergunta a paciente.
- Como “de que”? Interroga o médico.
- Bem, médico do coração, do fígado, dos rins, dos pulmões, enfim, médico “de que”?
- Minha senhora eu sou médico de gente, sou médico que cuida de pessoas e pacientes, porém estou mais treinado e especializado em pneumologia, doenças que acometem os pulmões. Médico tem que ter, pelo menos, duas especialidades. A primeira é “de quem” e não “de que”. É ser especialista em Gente. Gostar de Gente. Amar as pessoas, conhecer as pessoas, o ser humano, afinal só se ama o que se conhece. Esta primeira e fundamental especialidade que é gostar de Gente começa muito antes do ingresso na faculdade de medicina. Inicia-se no seio familiar, depois na escola e por fim na sociedade. Ser um especialista em Gente, um “Gentecista”, o estudante de medicina já deve trazer em seu cerne ao começar o curso médico e a busca do conhecimento “tecnicista” na faculdade de medicina deve ser uma forma de poder executar esse seu “Dom Humanista” com mais eficiência e qualidade. O status e o dinheiro não podem fazer parte desta escolha, sob o grande risco de se frustrar expectativas pessoais, profissionais e sociais.
A faculdade de medicina deve contemplar em sua grade curricular, além das tradicionais especialidades médicas, disciplinas que capacitem, ainda mais, este ser humano tão especial, não por ter escolhido a medicina, mas por ter sido escolhido por ela. Aprofundamentos em Antropologia, Filosofia, Sociologia, Teologia e Relacionamentos Humanos.
O exercício da medicina, freqüentemente, se depara com situações delicadas, onde não basta ser especialista (tecnicista), é necessário ser duplamente especialista, e, principalmente, “Gentecista”. Conhecer a fundo as várias dimensões da pessoa humana, para poder se relacionar em primeiro lugar, e, somente depois, diagnosticar, prescrever, tratar e cuidar.
Uma vez “Gentecista” poderá então escolher a outra especialidade técnica, fruto da sua maior afinidade com a disciplina. Teremos então o médico que a sociedade tanto espera: antes de ser especialista “de que” será “de quem”. Médico de Gente, “Gentecista”.
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Categoria: Gentecista, Medicina,
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